Fandango Caiçara

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Grupos fandangueiros

e o modo de vida tradicional caiçara

O fandango é uma expressão cultural que envolve música, tocada com violas, rabecas, adufos; dança em pares e em roda, com sonoro sapateado feito com tamancos

O fandango faz parte da vida social de comunidades caiçaras no litoral de São Paulo e do Paraná. É uma expressão cultural que envolve música, tocada com violas, rabecas, adufos; dança em pares e em roda, com sonoro sapateado feito com tamancos; e ainda improviso de versos. Sua prática é associada a diversão e socialização, em bailes ofertados como retribuição a mutirões de trabalho, em festas religiosas, no carnaval etc. Até os anos 1960, era mais comum  no ambiente familiar e comunitário dos sítios.

Desde então, e mais intensamente a partir do final da década de 1990, formaram-se muitos grupos de fandango que se apresentam também em clubes urbanos e participam dos circuitos de cultura. A organização de grupos pode ser pensada como um anseio dos próprios fandangueiros, por vezes com incentivo de pesquisadores e agentes culturais, em salvaguardar aspectos do modo de vida tradicional caiçara, cujas transformações foram aceleradas na segunda metade do século XX pela especulação imobiliária do litoral e, sequencialmente, pela criação de grandes unidades de conservação de proteção integral. Muitos moradores de sítios litorâneos e rurais foram pressionados a migrar para as periferias urbanas, formando até mesmo bairros caiçaras.

O reconhecimento do fandango caiçara como patrimônio brasileiro pelo IPHAN, em 2012, foi um desdobramento da atuação de uma rede constituída a partir do projeto Museu Vivo do Fandango e de encontros e festas de fandango que se intensificaram desde a virada do século. Esta rede patrimonial, formada por fandangueiros, grupos de fandango, associações culturais e  pesquisadores tem como propósitos centrais incentivar a continuidade dos bailes e fortalecer a luta pelo direito das comunidades caiçaras ao seu território.

Texto em destaque

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Edição e textos de Alexandre Pimentel, Patrícia Martins, Joana Corrêa, Daniella Gramani e Edmundo Pereira, 2015.

 

Nosso encontro

com a pesquisa
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Joana Corrêa

Antropóloga, Doutora em Antropologia / UFRJ

Joana Corrêa é antropóloga e gestora cultural, mestre e doutora pelo PPGSA/UFRJ, organizadora de Enlaces: estudos de folclore e culturas populares, com Maria Laura Cavalcanti (IPHAN, 2018).  

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De 2000 a 2013, realizou projetos e pesquisas relacionados ao fandango, como o Museu Vivo e os Encontros de Fandango e Cultura Caiçara, e apoiou Pontos de Cultura locais. Foi uma das coordenadoras do inventário para registro do fandango, integrou o GT de salvaguarda e organizou publicações sobre a experiência metodológica do Museu Vivo, reconhecido como boa prática em salvaguarda pela Unesco, em 2011.
Currículo

Joana Corrêa é antropóloga e gestora cultural, mestre e doutora pelo PPGSA/UFRJ, organizadora de Enlaces: estudos de folclore e culturas populares, com Maria Laura Cavalcanti (IPHAN, 2018).  De 2000 a 2013, realizou projetos e pesquisas relacionados ao fandango, como o Museu Vivo e os Encontros de Fandango e Cultura Caiçara, e apoiou Pontos de Cultura locais. Foi uma das coordenadoras do inventário para registro do fandango, integrou o GT de salvaguarda e organizou publicações sobre a experiência metodológica do Museu Vivo, reconhecido como boa prática em salvaguarda pela Unesco, em 2011.

joana.correa1978@gmail.com
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Alexandre Pimentel

Geógrafo e Professor Produção Cultural / IFRJ
Alexandre Pimentel

Em 2002 eu e um pequeno grupo de pesquisadores, artistas e produtores culturais criamos a Associação Cultural Caburé, uma organização não governamental voltada para a pesquisa e o registro de expressões das culturas populares, e que passou a ter também um importante papel nos debates sobre políticas públicas para esse campo. 

Currículo
Alexandre Pimentel

Em 2002 eu e um pequeno grupo de pesquisadores, artistas e produtores culturais criamos a Associação Cultural Caburé, uma organização não governamental voltada para a pesquisa e o registro de expressões das culturas populares, e que passou a ter também um importante papel nos debates sobre políticas públicas para esse campo. Como parte de nosso primeiro projeto (“Rabequeiros”, CCBB RJ/2002) realizamos algumas viagens de pesquisa, uma delas para o litoral sul de São Paulo e norte do Paraná, visando conhecer mais de perto tocadores, construtores de instrumentos musicais e pesquisadores ligados ao Fandango. Até então só tinha contato com artigos, livros e discos realizados por outros pesquisadores e pesquisadoras. Essa viagem foi a inspiração para a criação posterior do Museu Vivo do Fandango, projeto concebido por Joana Corrêa e por mim, visando a criação de uma rede e de um circuito de visitação reunindo tocadores, construtores de instrumentos, clubes e outros locais de referência. O projeto teve um importante impacto no território, e obteve alguns prêmios no país, além do reconhecimento internacional da Unesco, em 2011. Ele marcou profundamente minha trajetória e meu reencontro com a pesquisa acadêmica, motivando meu ingresso no mestrado e gerando a dissertação sobre a desterritorialização e a r-existência de comunidades caiçaras do litoral sul de São Paulo. Junto com Joana Correa e Patrícia Martins coordenei também a instrução do processo do registro do Fandango Caiçara junto ao IPHAN, que resultou no seu reconhecimento como Patrimônio Cultural Brasileiro em 2012.

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Como parte de nosso primeiro projeto (“Rabequeiros”, CCBB RJ/2002) realizamos algumas viagens de pesquisa, uma delas para o litoral sul de São Paulo e norte do Paraná, visando conhecer mais de perto tocadores, construtores de instrumentos musicais e pesquisadores ligados ao Fandango. Até então só tinha contato com artigos, livros e discos realizados por outros pesquisadores e pesquisadoras. Essa viagem foi a inspiração para a criação posterior do Museu Vivo do Fandango, projeto concebido por Joana Corrêa e por mim, visando a criação de uma rede e de um circuito de visitação reunindo tocadores, construtores de instrumentos, clubes e outros locais de referência. O projeto teve um importante impacto no território, e obteve alguns prêmios no país, além do reconhecimento internacional da Unesco, em 2011. Ele marcou profundamente minha trajetória e meu reencontro com a pesquisa acadêmica, motivando meu ingresso no mestrado e gerando a dissertação sobre a desterritorialização e a r-existência de comunidades caiçaras do litoral sul de São Paulo. Junto com Joana Correa e Patrícia Martins coordenei também a instrução do processo do registro do Fandango Caiçara junto ao IPHAN, que resultou no seu reconhecimento como Patrimônio Cultural Brasileiro em 2012.
alexandre.o.pimentel@gmail.com

Vídeos

Detentores comunicam seus
modos de existência
Vídeos que destacam fandangueiros, caiçaras e seus modos de vida, produzidos pelos pesquisadores e parceiros da rede patrimonial do fandango caiçara.
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Museu Vivo do Fandango, Associação Cultural Caburé, 2006.
O Fandango Caiçara é uma expressão musical-coreográfica-poética e festiva, cuja área de ocorrência abrange o litoral sul do Estado de São Paulo e o litoral norte do Estado do Paraná. 

"Trânsitos Caiçaras: em redes fandangueiras." Patrícia Martins e Flávio Rocha, 2011.

Outros Vídeos

Relacionados 
Vídeos produzidos por pesquisadores e integrantes da rede patrimonial do Fandango Caiçara.
Vídeo produzido pela Unesco sobre o Museu Vivo do Fandango, incluído, em 2011, na Lista de Melhores Práticas de Salvaguarda do Patrimônio Imaterial da Humanidade.
Projeto de mobilização e articulação de fandangueiros, grupos de fandango, instituições parceiras da sociedade civil e poderes públicos para fortalecer o contato, a cooperação e o intercambio entre eles fomentando assim a manutenção, difusão e divulgação do fandango caiçara.
O Comitê Provisório acompanhou o pedido de registro do Fandango como Patrimônio Cultural do Brasil desde 2010 e hoje tem como principal função organizar e produzir as ações referentes ao Projeto "Ô de Casa: Mobilização, Articulação e Salvaguarda do Fandango Caiçara”.
O Fandango Caiçara é uma dança típica das comunidades tradicionais do litoral sul de São Paulo, embalada pelo som da rabeca de cacheta.
 

Imagens de

um patrimônio
Coletâneas de imagens sobre mestres e grupos fandangueiros e sobre o modo de vida caiçara produzidas por pesquisadores e integrantes da rede patrimonial do Fandango Caiçara.
fonte: 
Acervo Museu Vivo do Fandango / Associação Cultural Caburé
fonte: 
Comitê de Salvaguarda do Fandango / fotos de Antônia Moura

Cartografia

Cultural

O Fandango Caiçara foi um dos primeiros bens registrados pelo IPHAN com presença reconhecida em mais de uma região do Brasil. O inventário para registro priorizou levantamentos nos municípios de Iguape e Cananéia, no estado de São Paulo, e em Paranaguá, Guaraqueçaba e Morretes, no Paraná, nos quais havia forte presença de grupos e mestres em atividades na ocasião. Contudo, há também grupos ativos em municípios como Peruíbe e Ubatuba, em São Paulo. O Fandango e a Ciranda Caiçara, que tem forte presença no litoral sul do Rio de Janeiro, em especial no município de Paraty, guardam muitas similaridades e aproximações e há inclusive questionamentos sobre a possibilidade de integrar estas formas expressivas em um mesmo registro. Não dispomos atualmente de uma mapa único e atualizado destes dados. Os mapas abaixo representam fragmentos deste panorama.

Cidades com presença de grupos e mestres de fandango que foram pesquisadas no âmbito do projeto Museu Vivo do Fandango entre 2005 e 2006

fonte: 
Museu Vivo do Fandango / Associação Cultural Caburé, 2006.

Mapa do território Caiçara

fonte: 
DIEGUES, Antônio Carlos (2005): Enciclopédia Caiçara, Vol. 4, pg. 320.

Calendário

Quando e onde.
Os bailes e apresentações de fandango acontecem em muitas ocasiões durante o ano, como festas religiosas e caiçaras, mutirões, encontros de fandango e eventos culturais. No momento estas atividades não tem sido realizadas em virtude da pandemia de Covid-19. Contudo, alguns músicos e grupos têm feito lives fandangueiras.

Anotação geral

O fandango é uma forma expressiva em que os bailes acontecem quando as pessoas estão dispostas a organizá-lo. Não é certo que as festas religiosas locais ou eventos relacionados à pesca e à agricultura tenham regularmente bailes ou apresentações de grupos de fandango. Isso depende de variáveis definidas ano a ano. O próprio Museu Vivo do Fandango foi constituído desta forma, como uma rede patrimonial de pessoas e organizações articuladas pelo fandango.
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Referências

para pesquisa
O Fandango Caiçara tem despertado o interesse de uma ampla produção de pesquisas acadêmicas e projetos culturais. A seguir apresentamos um breve panorama desta vasta produção, sem qualquer pretensão de esgotá-la.

CORRÊA, Joana; PEREIRA, Edmundo; PIMENTEL, Alexandre.
Museu Vivo do Fandango: aproximações entre cultura, patrimônio e território.
35º Encontro Anual da ANPOCS, GT19 - Memória social, museus e patrimônios, 2011.

https://www.anpocs.com/index.php/encontros/papers/35-encontro-anual-da-anpocs/gt-29/gt19-25/1042-museu-vivo-do-fandango-aproximacoes-entre-cultura-patrimonio-e-territorio/file

 

CORRÊA, Joana; PEREIRA, Edmundo; PIMENTEL, Alexandre.
“Museu Vivo do Fandango: contribuições para uma política cultural de aproximação entre cultura, patrimônio e território”.
Artigo publicado nos anais do XIXº Seminário Internacional de Políticas Culturais da FCRB (p.1101 a 1114).
http://rubi.casaruibarbosa.gov.br/handle/20.500.11997/8766

 

CORRÊA, Joana.
“Vamos fazer um fandango: Arranjos familiares e sentidos de pertencimento”.
Dissertação de Mestrado – PPGSA – IFCS/UFRJ.
https://sucupira.capes.gov.br/sucupira/public/consultas/coleta/trabalhoConclusao/viewTrabalhoConclusao.jsf?popup=true&id_trabalho=94539

 

CORRÊA, Joana. 
“A construção social do fandango como expressão cultural popular e tema de estudos de folclore”. 
Artigo publicado na revista do – PPGSA – IFCS/UFRJ.
http://dx.doi.org/10.1590/2238-38752016v625

 

PIMENTEL, Alexandre.
“Instrumentos musicais do fandango caiçara”.
Catálogo da exposição 186 - Sala do Artista Popular – CNFCP – IPHAN.
http://www.cnfcp.gov.br/arquivos/file/catvirtual186.pdf

 

PIMENTEL, Alexandre.
“Da desterritorialização à re-significação: a r-existência dos caiçaras da Juréia”.
Dissertação de Mestrado – PPGEO – UFF.
https://drive.google.com/file/d/1laYqolMvKhKHyEUgfHrAr-Wh24azwfD-/view

 

BERTOLO, Gabriel.
Narrativas do espólio: uma etnografia sobre o fandango e a “perda” cultural caiçara (Cananéia-SP).
Dissertação (Mestrado em Antropologia Social) – Centro de Educação e Ciências Humanas, Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, 2015.
http://www.ufscar.br/ppgas/wp-content/uploads/gabriel-bertolo-m.pdf


BONA, Bluma Fernandez de.
Solo da rabeca: território e patrimônio cultural, o caso do fandango caiçara.
Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Geografia) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2016.
http://www.tcc.sc.usp.br/tce/disponiveis/8/8021104/tce-13092016-182205/publico/2016_BlumaFernandezDeBona.pdf


FERRERO, Cintia Bisconsin. 
Na trilha da viola branca: aspectos sócio-culturais e técnico-musiciais do seu uso no fandango de Iguape e Cananéia, SP.
Dissertação de Mestrado. Instituto de Artes da Universidade Estadual Paulista – UNESP. São Paulo: [s.e.], 2007.
http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/cp109895.pdf


GIORDANI, Ary.
“Fandango Caiçara nos tempos da comunicação instantânea: Musicologia política ou etnografia do estado da arte?”.
Tese de Doutorado – PPGM ECA – USP.
https://teses.usp.br/teses/disponiveis/27/27157/tde-05092019-104918/publico/AryFabioGiordaniDanielVC.pdf


GRAMANI, Daniella.
“O aprendizado e a prática da rabeca no fandango caiçara: estudo de caso com os rabequistas da família Pereira da comunidade do Ariri”.
Dissertação de Mestrado – PPM – UFPR.
https://acervodigital.ufpr.br/bitstream/handle/1884/18196/Daniella%20Gramani%20Dissertacao%20Mestrado%202009.pdf?sequence=1&isAllowed=y

 

MARTINS, Patrícia. 
“Pelas cordas da viola, nas curvas da rabeca: uma etnografia dos movimentos de fazer musical caiçara”.
Tese de Doutorado – PPGAS – UFSC.
https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/189951/PASO0447-T.pdf?sequence=-1&isAllowed=y

 

MARTINS, Patrícia. 
“Um divertimento trabalhado: prestígio e rivalidade no fazer fandango na Ilha dos Valadares”.
Dissertação de Mestrado – PPGAS – UFPR.
https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/189951/PASO0447-T.pdf?sequence=-1&isAllowed=y

 

MARTINS, Patrícia e MOURA, Antonia Regina. 
“Ô de casa: reflexão a cerca de uma política cultural de salvaguarda do patrimônio imaterial”.
Artigo publicado nos anais do XV Enecult – Encontro de Estudos Multidisciplinares em Cultura.
http://www.enecult.ufba.br/modulos/submissao/Upload-484/112489.pdf

MUNIZ, José Carlos.
“O meu pai não me deu mestre, minha mãe não me ensinô, não sei por quem eu puxei, violeiro e cantadô”: memórias de um caiçara fandangueiro de Guaraqueçaba-PR.
Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento Territorial Sustentável) – Setor Litoral, Universidade Federal do Paraná, Matinhos, 2017.
https://acervodigital.ufpr.br/bitstream/handle/1884/52611/R%20-%20D%20-%20JOSE%20CARLOS%20MUNIZ.pdf?sequence=1&isAllowed=y

MATERIAIS PARA UNESCO SOBRE O MUSEU VIVO DO FANDANGO:

Guide Book

“Fandango's Living Museum” (Brazil) - Register of Good Safeguarding Practices – 2011.
https://ich.unesco.org/doc/src/Guide_to_Register_of_Best_Safeguarding_Practices-file_00502-EN.pdf (versão em inglês)

https://ich.unesco.org/doc/src/Guide_to_Register_of_Best_Safeguarding_Practices-file_00502-FR.pdf (versão em francês)

 

Informações sobre o Fandango Caiçara no portal do IPHAN

http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/83/ 

 

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