Folia de Reis em Valença (RJ)

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Uma tradição popular

com raízes no catolicismo

O costume de homenagear os Magos do Oriente chegou à América Portuguesa através da colonização, tornando-se pratica regular em várias localidades do país, assumindo diferentes formatos. A Folia de Reis celebra o nascimento do Menino Jesus e se propõe a representar a peregrinação e adoração deste pelos Magos do Oriente. É amplamente praticada em toda a Região Sudeste.

Os grupos se formam a partir de uma promessa (sempre de sete anos) ou por devoção permanente aos Santos Reis. Realizam jornada (ou giro) de treze dias (entre 25 de dezembro e 6 de janeiro) visitando casas, numa confraternização de fé. Os devotos os recebem, reverenciando os Santos Reis e esperando deles colher bênçãos para sua vida e seus entes queridos. Os grupos operam com pessoas desempenhando diferentes funções e sob certos princípios hierárquicos. A liderança cabe ao Mestre-Folião.

Os devotos os recebem, reverenciando os Santos Reis e esperando deles colher bênçãos para sua vida e seus entes queridos. 

O elemento de maior reverência na Folia de Reis é a Bandeira. Ocupa posição central no desenrolar da jornada, e mesmo fora dela, pois é sempre guardada em condição respeitosa. Tem ao centro a imagem da sagrada Família com os Magos.  Grande poder sedutor sobre observadores tem os Palhaços. Representam os soldados de Herodes, perseguidores do Menino Jesus. Vestindo máscaras e fardas coloridas gravitam em torno do grupo de instrumentistas, com certas liberdades e proibições.

O conjunto de saberes que orienta as práticas da Folia de Reis é chamado de “Fundamentos”, tendo a Bíblia como principal referência documental. A oralidade é o mecanismo primordial de transmissão de saberes.

Texto em destaque

Meu encontro

com a pesquisa
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Marluce Reis Magno

Mestre em Memória Social / UNIRIO
Residindo em Conservatória-Valença a partir de 1999, me deparei com um território rico em expressões da cultura popular, incluindo o aparecimento de certos grupos coloridos e musicais no período natalino. Emocionavam-me a simplicidade e dedicação de seus integrantes. Encantava-me com as cores, roupas e performances poético-musicais. Chamavam de Folia de Reis. Mas qual o sentido de tudo aquilo? Eu tinha que saber mais...

Graduada em História (2013) pela UNIRIO. Mestre (2016) e Doutoranda em Memória Social pelo PPGMS/UNIRIO.
Currículo
Residindo em Conservatória-Valença a partir de 1999, me deparei com um território rico em expressões da cultura popular, incluindo o aparecimento de certos grupos coloridos e musicais no período natalino. Emocionavam-me a simplicidade e dedicação de seus integrantes. Encantava-me com as cores, roupas e performances poético-musicais. Chamavam de Folia de Reis. Mas qual o sentido de tudo aquilo? Eu tinha que saber mais...

Graduada em História (2013) pela UNIRIO. Mestre (2016) e Doutoranda em Memória Social pelo PPGMS/UNIRIO.
magnomarluce@gmail.com

Vídeos

Detentores comunicam seus modos de existência
Ao longo do processo da pesquisa são produzidos encontros onde se destacam personagens como palhaços, foliões e devotos. Esta seção registra a fala de alguns desses interlocutores.
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Grupo em visita a casa de devoto na Agrovila de Pedro Carlos (Conservatória – Valença, RJ), e Encontro de Folias de Reis de Valença, realizado anualmente, todo dia 5 e 6 de janeiro, na Catedral de Nossa Senhora da Glória.
Grupo Estrela do Oriente, do Mestre Calixto (in memoriam), em visita a devoto na Agrovila de Pedro Carlos (Conservatória – Valença, RJ), no dia do encerramento de sua jornada (6 de janeiro de 2015).
Folia de Reis de Valença, produção da Secretaria Estadual de Cultura do Estado do Rio de Janeiro para o Registro de Tradições Orais. Apresenta uma síntese das práticas, saberes e representações da Folia de Reis valenciana (2011).

Outros Vídeos

Relacionados ao Município de Valença - RJ
Vídeos produzidos pelo próprio grupo de Folia ou simpatizantes. Há vários disponíveis no Youtube, mas esta seleção buscou incluir diferentes grupos, em diferentes momentos da jornada. São 8 grupos dentre os mais de 20 grupos em atividade no município, no ano de 2020.
Grupo dos Menezes, do bairro da Biquinha (2013).
Mestre Valeta, do Grupo do bairro do Chacrinha, declamando as profecias (2015).
Chula dos palhaços do grupo dos Irmãos Cassimiro, do bairro Santa Cruz (2018).
Chula dos palhaços (farda farrapo) do grupo Lua Nova, do mestre Marquinhos (2018).
Grupo do Zé Venâncio, do bairro de Osório, visitando igreja. A visita a igrejas católicas durante a jornada é prática regular (2019).
Grupo do Paulinho Charrete, do bairro da Biquinha. Apresentação no 43º Encontro de Folias de Valença (2014).
Palhaço Zimar no Chula no grupo do bairro Dudu Lopes, mestre Chico (2019).
Encerramento de jornada do grupo do Doca, do bairro Serra da Glória. Declamação de despedida pelo mestre Juquinha (2020).

Outros Vídeos

Relacionados à Região Sudeste
A longevidade e frequência dos Encontros regionais de Folia de Reis evidenciam a intensidade dessa expressão da cultura popular por toda a Região. Aqui, vídeos dessas festas nos quatro estados do Sudeste. Mais informações na Cartografia Cultural adiante.
Encontro de Folias em Muqui (69º), ES (2020).
Encontro de Folias em Uberaba (60º), MG (2020).
Encontro de Folias em Duas Barras (43º), RJ (2018).
Encontro de Folias em Ribeirão Preto (28º), SP. (2020)
 

Imagens de

um patrimônio
Coletânea de imagens do acervo pessoal da pesquisadora Marluce Magno, capturadas ao longo de pesquisas entre os anos de 2015 e 2020, por ocasião das festividades de Folias de Reis no Municípo de Valença no Rio de Janeiro.

Cartografia

Cultural

Em termos quantitativos, a cartografia revela presença de Encontros de Folia de Reis em toda a Região Sudeste, com maior incidência ao norte de São Paulo e no sul e região metropolitana de Minas Gerais. No Rio de Janeiro destacam-se as regiões metropolitana e sul fluminense.
Mais detalhes em MAGNO, 2016, p.138-140.

REGIÃO SUDESTE:
Distribuição Regional das Festas de Santos Reis por Tipos

fonte:
SILVA, Affonso M. Furtado. Reis Magos: História – Arte – Tradições: fontes e referências. Rio de Janeiro: Léo Christiano Editorial: 2006.

Legendas

A: Local,
B: Regional e
BB: Regional de Grande Expressão

Regiões Estaduais e Mesorregiões (IBGE)
Minas Gerais 
I - Noroeste de de Minas
II - Norte de de Minas
III - Jequitinhonha
IV - Vale de de Mucurí
V - Triângulo Mineiro / Alto Paranaíba
VI - Central Mineira
VII - Metrpolitona de Belo Horizonte
VIII - Vale do Rio Doce
IX - Oeste de Minas
X - Sul / Sudoeste de Minas
XI - Campo das Vertentes
XII - Zona da Mata

Espírito Santo
I - Noroeste Espírito Santense
II - Litoral Norie Espírito Santense
III - Central Espírito Santense
IV - Sul Espírito Santense 

Rio de Janeiro
I - Noroeste Fluminense 
II - Norte Fluminense
III - Centro Fluminense 
IV - Baixadas
V - Sul Fluminense 
V - Metropolitana do Rio de Janeiro

São Paulo
I - São José do Rio Preto
II - Ribeirão Preto
III - Araçatuba
IV - Baurú
V - Araraquara
VI - Piracicaba
VII - Campinas
VIII - Presidente Prudente
IX - Marília
X- Assis
XI - Itapetininga 
XII - Macro Metropolitana Paulista
XIII - Vale Paraíba Paulista
XIV - Litoral Sul Paulista
XV - Metropolitana de São Paulo

Calendário

Quando e onde.
A Folia de Reis mobiliza os integrantes dos grupos ao longo de todo o ano. É comum seus membros encontrarem-se para comentar e celebrar a jornada passada, planejar a próxima, realizar ensaios, etc. No âmbito da Folia valenciana, as datas e/ou períodos mais representativos são:

Dezembro

17

Missa do Envio (Benção das Bandeiras)

Ocorre no 3º domingo do Advento (aproximadamente 1 semana antes do Natal), na Igreja Matriz Nossa Senhora da Glória (Centro).
24

Abertura da Jornada

Na noite de 24 de dezembro, uma casa é escolhida pelo grupo para início da jornada. Em geral, na "sede" da bandeira (onde fica guardada ao longo do ano).
25

Jornada

A jornada é realizada nas casas dos devotos, por todo o município, porém há concentração maior no distrito-sede. A partir da zero hora de 25 de dezembro até 6 de janeiro - todos os dias, exceto 31 de dezembro. A maioria dos grupos sai ao final do dia (19 horas), quando muitos dos componentes já concluíram o expediente no trabalho.

Janeiro

5

Encontro de Folias de Reis de Valença

Nos dias 5 e 6 de janeiro, a partir das 18 horas, no adro da Igreja Matriz Nossa Senhora da Glória (Centro), acontece o Encontro de Folias de Reis de Valença.
6

Encerramento da Jornada

No horário escolhido pelo grupo, é feito o encerramento da jornada na casa escolhida pelo grupo - em geral, na "sede" da bandeira.
6

Missa dedicada aos Santos Reis

Iniciando entre 16 e 18 horas, na Igreja Matriz Nossa Senhora da Glória (Centro), é realizada Santa Missa dedicada aos Santos Reis. Um grupo participa da missa, representando todos.

Sem data fixa

Baile de Reis (Festa do Arremate)

O Baile de Reis pode ocorrer em qualquer dia do ano, fora da Jornada. É definido por cada grupo, que evitam coincidir datas. Normalmente acontece no local da "sede" da bandeira de cada grupo
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Referências

para pesquisa
A Folia de Reis tem despertado grande interesse na Academia. Aqui listamos algumas teses, dissertações e artigos. Inclui trabalhos utilizados ao longo da pesquisa, e outros com possibilidade de futura utilização.

MAGNO, Marluce.
Culturas populares, Políticas Públicas e Patrimonialização: (Des)encontros na Folia de Reis de Valença, Rio de Janeiro.
Dissertação (Mestrado em Memória Social). UNIRIO, Rio de Janeiro, 2016.
http://www.memoriasocial.pro.br/documentos/Disserta%C3%A7%C3%B5es/Diss400.pdf


MAGNO, Marluce; ABREU, Regina.
Patrimônio, turismo e culturas populares: vários agentes, múltiplos desafios.
Revista Íberoamericana de Turismo, v. 9, p. 97-113, 2019.
http://www.seer.ufal.br/index.php/ritur/article/view/7086

MAGNO, Marluce; ABREU, Regina.
Desafios na patrimonialização de bens imateriais de caráter religioso: o caso das Folias de Reis Fluminenses.
Religião e Sociedade, v. 37, p. 18-45, 2017.
http://www.scielo.br/pdf/rs/v37n3/0100-8587-rs-37-3-00018.pdf

 

 

BITTER, Daniel.
A Bandeira e a Máscara: estudo sobre a circulação de objetos rituais na Folia de Reis.
2008. 191f. Tese (Doutorado em Ciências Humanas). UFRJ, Rio de Janeiro, 2008.
http://www.proibidao.org/wp-content/uploads/2011/12/Daniel-Bitter_A-Bandeira-e-a-Mascara.pdf


CHAVES, Wagner Diniz.
Na jornada de Santos Reis – Conhecimento, ritual e poder na folia do Tachico.
Maceió: EDUFAL, 2013.

CHAVES, Wagner.
Máscara, Performance e Mímesis: práticas rituais e significados dos palhaços nas Folias de Santos Reis.
Textos Escolhidos de Cultura e Arte Populares (Impresso), v. 5, p. 67-80, 2008.

CHAVES, Wagner.
Canto, voz e presença: uma análise do poder da palavra cantada nas folias norte-mineiras.
Mana, Rio de Janeiro. vol. 20 no.2., p.249-280, Aug. 2014.
http://www.scielo.br/pdf/mana/v20n2/0104-9313-mana-20-02-00249.pdf

CHAVES, Wagner.
A bandeira é o santo e o santo não é a bandeira: práticas de presentificação do santo nas Folias de Reis e de São José.
Tese (Doutorado em Antropologia Social). Rio de Janeiro, UFRJ, 2009.
http://objdig.ufrj.br/72/teses/709330.pdf

CHAVES, Wagner.
Na jornada de Santos Reis: uma etnografia da Folia de Reis do Mestre Tachico.
Dissertação (Mestrado em Antropologia Social). Rio de Janeiro, UFRJ, 2003.
http://objdig.ufrj.br/72/teses/604131.pdf

FONSECA, Edilberto José de Macedo. Temerosos Reis dos Cacetes: uma etnografia dos circuitos musicais e das políticas culturais em Januária – MG.
Tese (Doutorado em Música). UNIRIO, Rio de Janeiro, 2009. 309 f.
https://www.dropbox.com/s/absu0011ifxw7q4/Fonseca_Edilberto%20J%20M_Tese-Temerosos%20Reis%20dos%20Cacetes.pdf?dl=0


FRADE, Cáscia.
O saber do viver: redes sociais e transmissão do conhecimento.
Tese (Doutorado em Ciências Humanas, no curso de Educação). PUC, Rio de Janeiro, 1997.

GARCIA, Rafael Marin da Silva.
Lá no Céu Canta os Anjo, aqui na Terra Canta Nóis: um estudo etnográfico das práticas sócio-musicais dos foliões de reis no Sul de Minas Gerais.
Tese (Doutorado em Música). UFMG, Belo Horizonte, 2018. https://repositorio.ufmg.br/handle/1843/AAGS-B8YF4G

GOMES, Jorge Ray da Silva.
O processo de criação e composição do cantar da Folia de Reis: uma experiência “musissacra”na cultura de Cardoso Moreira [RJ].
Dissertação (Mestrado em Cognição e Linguagem). UENF, Campos dos Goytacazes, 2018.
http://www.pgcl.uenf.br/arquivos/dissertacaopronta_020920191514.pdf

GOULART, Rafaela Sales.
Sentidos da Folia de Reis de Florínea (SP): memória, identidade e patrimônio (1993-2013).
Dissertação (Mestrado em História). UNESP, Assis, 2016.
https://repositorio.unesp.br/handle/11449/141520

LOURENÇO, Aliny Cristina.
A Folia de Reis de São José do Barreiro: recurso cultural brasileiro.
Dissertação (Mestrado em Estética e História da Arte). USP, São Paulo, 2014.
https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/93/93131/tde-24042015-151959/publico/2014_AlinyCristinaLourenco_VCorr.pdf

MARINHO, Neide.
A Folia de Reis: uma leitura da cultura mineira mediada pela comunicação.
Tese (Doutorado em Comunicação e Semiótica). PUC, São Paulo, 2008.
https://tede2.pucsp.br/bitstream/handle/4422/1/Neide%20Aparecida%20Marinho.pdf

MARINHO, Neide.
Folias de Reis: múltiplos territórios.
Niteroi: Eduff, 2016.


MONTE-MOR, Patrícia.
Hoje é o dia do Santo Reis. Um estudo de cultura popular no Rio de Janeiro.
Dissertação (Mestrado em Antropologia). UFRJ/Museu Nacional/PPGAS, Rio de Janeiro, 1992.
https://pantheon.ufrj.br/bitstream/11422/10968/1/187479.pdf

PEREIRA, Luzimar Pereira.
Os giros do sagrado: um estudo etnográfico sobre as folias em Urucuia, MG.
Rio de Janeiro: 7 Letras, 2010. Resenha de BITTER, Daniel. Antropolítica: Revista Contemporânea de Antropologia, v. 36, p. 327-337, 2014.
http://www.revistas.uff.br/index.php/antropolitica/article/view/234

SOUZA, Luiz Mendel.
As folias de reis e suas peregrinações rituais por territórios liminares urbanos.
Ponto Urbe, São Paulo, USP, v.24, 2019. https://journals.openedition.org/pontourbe/6041

SOUZA, Luiz Mendel.
Os Giros dos Santos Reis em fotografias e desenhos etnográficos.
Ponto Urbe, São Paulo, USP, v.24, 2019. https://journals.openedition.org/pontourbe/6280

SOUZA, Luiz Gustavo Mendel.
Giros Urbanos: Uma etnografia da festa do arremate da folia de reis de São Gonçalo-RJ.
Tese (Doutorado em Antropologia). UFF, Niterói, 2017. 

JONGOS, CALANGOS E FOLIAS: música negra, memória e poesia.
Direção: Hebe Mattos e Martha Abreu. 
LABHOI/NUPHEC/UFF e NUPHEC/UFF), 2007.
http://www.labhoi.uff.br/jongos-calangos-e-folias-musica-negra-memoria-e-poesia

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